segunda-feira, 28 de maio de 2007

Começos póstumos

Andei um tempo sem postar nada que escrevo. Fui uma decisão difícil já que gostava muito do feedback quase que online do multiply. Essa decisão veio de várias formas, da falta de privacidade e falta de créditos que as pessoas tinham com os textos e tudo mais. Mas resolvi tentar novamente e divulgar os textos dinha minha autoria e dividir com os que se interessam. Assino os meus como Sangama, meu sobrenome. Vai aí um texto que escrevi há um mês atrás. Queria deixar claro, também, que nem sempre escrevo o que sinto ou como primeira pessoa. Simplesmente escrevo, quase psicografo.


"Pensei ter acordado duas horas antes de te ligar, mas não, acordei exatamente na hora de te ligar. Era fácil entender porque não dormia e porque eu demoraria tantos anos a fio para entender a causa do teu silencio. Minha vida sempre foi feita de buracos, um congestionamento infernal de preguiças atrás de histórias mal contadas e versos sem prosa. Uma piedade sem fim, carência sem tamanho das noites sem dormir. Quando tu veio, como vento que a gente sente sem querer, eu senti que as horas passavam. Não digo que passavam de uma hora depois da outra, mas passam por mim, horas que sinto, o piscar dos seus olhos, o seu andar, pé pós pé, sua cintura balançada, tudo isso e muito mais tem seu tempo, sua fração dentro do meu relógio, sentia diminuir das minhas horas as suas de amor. Aprendi com o tempo a medir a felicidade ao contrário, feito cronômetro de embarque. Você chegava eu ligada o relógio perverso. Doía-me cada sorriso bem dado seu, era menos meia hora da nossa história, quase pedia pra guardar um pro final da linha, ou só sonhos quem sabe dormir junto, acho que dormir não contava no meu relógio. A esfuziante forma com que me acordava, o seu leite morno com nescau e até mesmo sua meia pela metade do pé descrevia um ritual na minha cabeça, era muitas horas de felicidade pra poucos que meu relógio poderia agüentar. Me entreguei então completamente, me senti solto entre você e o tempo, anulei de todas as formas os ponteiros e me guiei então pelas batidas do meu coração. Não era mais uma virtude de contar que eu supunha estar vivendo, era a forma como eu não dominava meu coração que me fazia suspirar de agonia. Estava numa montanha russa, eu era a planilha de emoções, sempre em erguida sustos e agouros felizes. Não havia maneira nem lugar pra estar do que onde estava e quando estava, o ar mais leve me fazia flutuar pelos corredores das minhas cenas ensolaradas. Mas minhas virtudes e as pregas do meu sorrisos ficavam duras, não conseguia então mais sentir minhas mão nas tuas mãos, elas suavam, ouvia um barulho estranho ao longe. Logo depois os beijos longos, ficavam mais longos e mais molhados, não sabia explicar, sabia q lembrava disso outrora, era uma repetição, sabia q havia escrito isso em outra historia, então abri os olhos e a cama bagunçada me deu agonia, estranha. Ouvi de novo o barulho alucinante, estaria com problemas? Acordei mais um dia e nem café da manhã tomei, troquei a montanha russa pelo carrossel, achei mais apropriado pro inverno que se formava. Então comecei a enjoar das voltas, das paradas e das entradas e saídas. Comecei a ficar surdo, e às vezes até mudo quando convinha, e comecei a ter muitas limitações corporais, cansaços e dividendos e subtrações incríveis no tempo, lembrei de onde era o barulho, lembrei do relógio. Abria caixa de sapatos, peguei o relógio, olhei as horas, apertei os dedos na palma e voltei."

2 comentários:

soft disse...

As pessoas deveriam ficar mais soltas entre alguêm e o tempo. Deixar o vento fazer a parte dele.

Pedro Lago disse...

Vai amigo, atrás de sua catárse!